Maternar no estrangeiro

Desafios, diferenças e um pouco da minha experiência.

Rachel Schatz

2/16/20243 min read

woman between two childrens sitting on brown wooden bench during daytime
woman between two childrens sitting on brown wooden bench during daytime

Tornar-se mãe, por si só, não é fácil.

Junto com um amor imensurável e incomparável, sentimentos como medo, angústia, culpa, entre milhares de outros, bons ou ruins, tomam conta da nova (ou não tão nova) mãe. Esses sentimentos aparecem independentemente da cultura, da etnia, da classe social ou de onde esta mãe se encontra. Mas quando ela pode contar com uma rede de apoio, como amigos e familiares próximos, que a ajudam a enfrentar este momento tão peculiar, a travessia por ele parece mais fácil.

Mas e quando não existe uma rede de apoio? E quando essa mãe vai ter seu bebê longe de sua própria família e amigos mais íntimos? Esse é o desafio da maior parte das mulheres que, por diferentes motivos, migraram para o exterior, e agora estão vivendo o momento mais intenso de suas vidas e muitas vezes se sentindo perdidas, deslocadas ou desamparadas.

Sentir-se solitária é um dos principais desafios do maternar no estrangeiro: precisar de ajuda extra e não saber a quem recorrer; necessitar de pausas para descansar durante o dia e não ter como atender a essa demanda; querer compartilhar os momentos de alegria com pessoas queridas e não tê-las por perto... a lista é longa, e os afazeres também. Mas sempre conseguimos encontrar pequenas soluções para cada problema que pode se apresentar.

Um exemplo é o apoio trocado por mulheres que passam por situações semelhantes e como a troca de experiências pode ser uma grande aliada quando nos sentimos perdidas. Procure grupos de mães e de gestantes - brasileiras ou não, virtuais ou presenciais - no local em que reside e sinta-se acolhida por desconhecidas que, pelo fluxo da vida, hoje te entendem muito bem. Mantenha-se conectada aos familiares e compartilhe com eles, através de fotos, vídeos e depoimentos, como está sua jornada, e a de seus filhos também. Convide-os a participar de cada momento do seu maternar. Isso diminui os sentimentos de culpa e frustração, que muitas vezes aparecem por estarmos longe, e ajuda a criar um vínculo entre as crianças e os familiares que longe vivem.

Outro desafio importante de mencionar é a dificuldade que encontramos muitas vezes em lidar com as diferenças culturais entre nosso país de origem e aquele que escolhemos para viver. Diferenças essas que vão desde os cuidados pré-natais até o sistema de educação que é particular de cada país. Para diminuir o impacto dessas diferenças, a informação entra como uma grande ferramenta de preparo para mães e pais: informe-se o máximo que puder sobre todos os procedimentos em seu país de residência. Durante a gestação, saiba com antecedência como funciona o pré-natal, a escolha do hospital, a licença maternidade e obtenha todas as informações relevantes para que você passe por este momento com mais leveza e clareza daquilo que quer. Nos primeiros  anos do bebê, informe-se sobre como são feitos os cuidados com o mesmo, seja de consultas ao pediatra até a escolha de uma creche. Converse com seu/sua parceiro/a como serão feitas essas escolhas e o que vocês priorizam para o desenvolvimento saudável de seus filhos. Cerque-se de profissionais que te transmitem confiança e disponibilidade, pois eles estarão cuidando do seu mais precioso bem. Informe-se também sobre o sistema educacional de seu país, pois os anos passam voando e logo seu pequeno bebê irá para a escola, será alfabetizado, e, como criança bi ou trilíngue, ele terá muitos desafios pela frente, e você, como mãe, quer sentir-se pronta para ajudá-lo neste momento.

A vida da mãe é um eterno vai-e-vem de emoções e uma linha constante de preocupações. Quanto a isso, não há muito o que fazer a não ser aceitar que estamos sempre em busca da nossa melhor versão e que é justamente esse mosaico de sensações e a imprevisibilidade da experiência que a fazem ser tão especial. Para a mãe que materna no estrangeiro, fica a consciência de que, sim, os desafios são maiores, mas nem por isso impossíveis de enfrentar. E se a situação for insustentável e sentimentos negativos se mostrarem sempre presentes, procure ajuda profissional, para entender de onde eles vêm e assim ser possível transformá-los. Busque também soluções junto com seu/sua parceiro/a, pensando no que é melhor para toda a família, lembrando-se sempre de respeitar os próprios limites e aceitar as próprias limitações, afinal para criar uma criança feliz é necessário primeiro ser uma mãe feliz.

por Rachel Schatz - mãe de um e à espera do outro.