A Importância de Pertencer
Porque fazer parte de algo muda tudo...
Já escrevi aqui diversas vezes sobre os desafios que a imigração impõe: um novo idioma, uma nova rotina, a saudade, uma nova colocação profissional... são tantas as mudanças que às vezes entramos no modo automático para resolver essas questões e esquecemos algo fundamental e anterior a tudo isso: a importância de sentirmos que pertencemos à algo (ou à algum lugar).
Recentemente tive uma experiência que ilustrou isso muito bem. Moro no exterior há quase oito anos e às vezes me sinto como se tivesse acabado de chegar. Por mais que eu tenha conhecido pessoas incríveis e construído amizades sólidas, às vezes me pego acreditando que tudo isso é passageiro e que o significado que eu tenho na vida destas pessoas não pode ser comparado ao que eu tinha com meu círculo do Brasil; pessoas estas que me viram crescer e construir minha personalidade, ao mesmo tempo que elas construíam suas próprias histórias. Aqui, chegamos adultas, já com certezas e com ideias consolidadas, o que torna muito mais difícil a identificação com outras pessoas e a formação de vínculos.
Mas voltando à minha experiência: em uma sexta-feira à noite, eu, junto com outras 10 mulheres, todas brasileiras que residem no exterior e tiveram seus filhos fora também, nos juntamos para ir a um karaokê. Deixando os dotes vocais de lado (o que eu assumidamente não possuo), foi uma noite memorável, para mim com certeza, mas acredito que para todas elas também. E por quê? Porque nos sentimos pertencentes. Pertencentes àquele momento de conexão, cantando músicas que marcaram nossas adolescências; nos dando um tempo à parte da maternidade; nos permitindo cantar, dançar e pular como se todos os desafios que enfrentamos desde que aterrissamos no exterior não existissem. Porque por mais diferentes que sejam nossas histórias e nossas origens, temos em comum esse momento do percurso, quando olhamos para trás e nos vemos não sendo nem mais pertencente ao passado e nem completamente pertencente ao presente. Mas pertencemos ao limbo - o limbo da imigrante que compartilha parte da sua história com aqueles que se encontram no outro lado do atlântico, e outra parte com uma dezena de desconhecidas que te entendem pelo olhar e sabem exatamente o que você está sentindo.
A busca do pertencimento é inerente ao homem. Somos seres sociais e precisamos disso. Precisamos do outro para nos reconhecermos como nós mesmos. E quando essa sensação de fazer parte parece distante, é como se encontrássemos um vazio à nossa volta. Sentimo-nos perdidos. Mas isso não precisa ser uma realidade que se impõe sem piedade. É possível (e fundamental) conectar-se com pessoas que tragam a sensação de que sim, somos parte de algo, e estruturar essas relações para que , a cada dia que passa, a sensação de pertencimento seja mais palpável e concreta. Isso muda tudo.
Nem sempre essas conexões aparecem com facilidade, é verdade. Mas elas existem, independentemente de onde estamos. Às vezes nós mesmos criamos barreiras, com medo de novas mudanças e rupturas. Como anda seu senso de pertencimento por aí? Podemos trabalhar juntas para construí-lo novamente. Se você se identificou com esse texto, me manda uma mensagem aqui pelo site. Ficarei feliz em ouvir sua história.
Rachel Schatz